quinta-feira, 25 de julho de 2013
Educação
Educação
Conheci Nilton Fischer em 1988 quando ele era o diretor da
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Confesso que naquele momento não sabia nem mesmo
da existência de uma faculdade de educação, qual o seu
currículo ou utilidade. Nilton, que era de uma inteligência e
simpatia extraordinária, me convidou para falar sobre o lixo de
Porto Alegre e seus destinos. Deixei o carro estacionado perto da
reitoria, onde havia um show, e fui achacado por um
guardador de carros, que me pediu antecipadamente uma quantia que me
pareceu exorbitante para guardar meu precaríssimo Fiat
147.Eu tinha dois filhos pequenos, orçamento apertado, e
recusei a pagar, estava ali a trabalho, não para ver o show.
Prometi ao guardador dar algum troco na volta, se ele e o carro
ainda estivessem ali.
A conversa foi reveladora. Nilton era apaixonado por seu
trabalho, conhecia profundamente as relações sociais e
políticas das comunidades carentes da cidade, tinha um
interesse real e comovente pelo ser humano comum, pelos
excluídos. Não tinha uma atitude paternalista, não
estava ali para ajudar ou fazer caridade, seu interesse era
transformar,promover cidadania. Ele tinha visto meus primeiros curtas e
me instigou a fazer um trabalho sobre os caminhos do lixo,
memostrou um vídeo onde alunos universitários, recebidos a
pedradas, tentavam se aproximar dos moradores da Ilha Grande
dos Marinheiros, viviam ali algumas pessoas que se
alimentavam da sobra do lixo orgânico destinado a
alimentaçãodos porcos. Fiquei profundamente impactado com a
situação edisse que ia pensar seriamente no assunto. Era tarde, lhe
ofereci uma carona, ele aceitou.
Encontrei meu carro com dois pneus furados. Dispensei o
Nilton da carona, mas ele insistiu em me acompanhar na
enfadonha tarefa de trocar um pneu, levar para o conserto,
de táxi, e voltar, para trocar o segundo pneu. Acho que foi
naquelas idas e vindas da borracharia que surgiu o meu filme
Ilha das Flores.
Nilton faz muita falta, era um ser humano incomum, muito
inteligente e bem humorado, com uma grande capacidade de
ouvir. Pelo seu exemplo, ensinou muita gente, inclusive a
mim, o verdadeiro sentido da educação.
Jorge Furtado
Rio de Janeiro, 24 de julho de 2013
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